A Assírio & Alvim agendou para Junho o lançamento de duas obras que, diz, contribuem «para uma maior compreensão da sua obra e da sua vida». São elas Histórias de um Raciocinador e o ensaio «História Policial», que reúne o primeiro conjunto de histórias policiais de Fernando Pessoa, escritas em inglês entre 1906 e 1907, e Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz, publicadas pela primeira vez no mesmo volume.
Histórias de um Raciocinador e o ensaio «História Policial»
«Este volume reúne o primeiro conjunto de histórias policiais de Fernando Pessoa, escritas entre 1906 e 1907 e em língua inglesa. Começa aqui o policial pessoano, conceito em que irá trabalhar até morrer. Se, nalguns aspetos, estes textos estão ainda ligados à juventude do autor e às experiências e leituras desses tempos, outros revelam uma surpreendente coerência em relação à escrita policial da sua maturidade. A visão que Pessoa tinha do género começou aqui a formar-se e ele manteve-se-lhe fiel até ao fim. O ex-sargento William Byng é o detetive criado, misto de genialidade e fraqueza, personificação dos poderes dedutivos, com um raciocínio abstrato que se assemelha a um número de circo de elaborados volteios. Tal como mais tarde Abílio Quaresma, das novelas policiárias, Byng é um decifrador dos mistérios do mundo e da mente humana, aparentemente transcendentes, mas possíveis de reduzir a simples charadas da vida real.
O ensaio «História Policial», também ele iniciado na juventude, mas continuado e acrescentado ao longo das décadas seguintes, revela o profundo conhecimento do autor acerca de um género ao tempo pouco valorizado entre nós, mas que ele apreciava o suficiente para o desejar transformar em coisa sua. Neste ensaio é definido o princípio fundador: o policial de qualidade, produto da imaginação, deve ser sobretudo um divertimento intelectual e um exercício de raciocínio.»
Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz
«Pela primeira vez, as cartas de amor de Fernando Pessoa e de Ofélia Queiroz são apresentadas em edição conjunta, a forma mais adequada para dar a ler uma correspondência, que pressupõe sempre um diálogo, uma interação, a existência concreta de dois interlocutores. Cada carta é, em si mesma, ou a resposta a outra carta ou pretexto para ela. Até quando o destinatário opta por não responder, de algum modo, o seu silêncio se inscreve na carta seguinte. Assim, uma relação amorosa, sustentada epistolarmente, como a de Pessoa e Ofélia, só é, na verdade, entendível quando os dois discursos se cruzam e mutuamente se refletem.
Neste livro a ideia comum de que estaríamos perante um namoro platónico, sem réstia de erotismo, desfaz-se por inteiro. Vemos, enfim, surgir um Pessoa diferente do outro lado do espelho. Um Pessoa não só sujeito e manipulador da escrita, mas um Pessoa indefeso, objeto do discurso (e do afeto) de outrem, personagem de uma história real.»