Demorei uns tempos (uns anos) a chegar ao Equador, um tempo que, agora, me parece demasiado longo, mas se calhar a viagem até este tremendo romance de Miguel Sousa Tavares foi encetada na altura ideal.
Muito badalado desde há anos, este romance tornou-se demasiado exposto, uma daquelas coisas de que tanto se fala que até acaba por perder o interesse, para não dizer «enjoar». Estava, portanto, a precisar de um período de descanso antes de lhe pegar e, a pretexto da nova e bela edição da Oficina do Livro, finalmente tive a oportunidade (e a vontade) de o fazer.
Revelou-se uma leitura compulsiva, motivada não só por estar bem escrito mas por se tratar de uma bela história e de uma aventura bem documentada onde todas as páginas, palavras e letras são úteis, justificando-se assim a dimensão, em termos de páginas, da obra.
Equador tem tudo: aventura, cenários exóticos, emoção, denúncia, contextualização histórica, tudo assente, e movido, inevitavelmente numa complexa história de amor.
Com a acção a decorrer no início do século XX – trata-se de um clássico romance histórico – tem por protagonista Luís Bernardo, um homem com preocupações sociais que defende uma nova política colonial e que é incumbido pelo rei D. Carlos de se mudar para São Tomé e Príncipe (como governador-geral) para averiguar das condições de trabalho dos negros nas plantações de cacau, de modo a assegurar-se de que não havia escravatura. A preocupação da realeza tinha mais que ver com a pretensão de agradar aos ingleses, que ameaçavam com um boicote comercial, do que efectivamente com as condições de trabalho desumanas. Em tempos de transição como aquele, a noção de escravatura era algo vaga e Luís Bernardo encontra dificuldades para levar o seu trabalho avante, dada a reticência dos poderosos produtores de São Tomé e Príncipe. Tudo se complica quando se começa a desenvolver a tal complexa história de amor que envolve, além de Luís, o casal Ann e David, sendo este último precisamente o cônsul inglês encarregue de verificar se efectivamente a escravatura era uma coisa do passado.
A história e os ambientes são narrados com muita cor e vida e o enquadramento histórico escapa ao cinzentismo por vezes presente neste tipo de romance, provando que é possível descrever uma época de outra forma, que não seja tipo manual ou livro de história. A mistura entre a descrição dos ambientes, a vida quotidiana em São Tome, as amizades, os amores, as tensões e a política resulta numa história sabiamente equilibrada e bem construída que se lê como se assistindo a uma grande produção cinematográfica – isto é um elogio, caso tenham dúvidas.
Em suma, um grande romance, a ler.