Este romance da América desiludida é, acima de tudo, um livro que sente. Ao lê-lo, estamos próximos das personagens, da paisagem, daquela América contemporânea com tanto de rural como de industrial, mas já numa fase de fábricas desativadas e em pré-ruína.
Em Ferrugem Americana (título muito apropriado) não estamos só a observar a vida de terceiros, parece sim que nos encontramos lá com eles, se não a participar, pelo menos muito próximos, a sentir cheiros, sons, pensamentos, aflições. Curiosamente, o estreante Phillip Meyer para obter esse feito nem precisou de recorrer ao artifício da narração na primeira pessoa, onde é mais «simples» exprimir sentimentos. «Serve-nos» antes essas emoções através das descrições de lugares e situações, ou até de meras falas.
A obra, que aborda uma América destroçada pela crise económica, é sobre amor, amizade, família e, principalmente, os sonhos não vividos. É sobre vidas não vividas que com a passagem do tempo se tornam cada vez mais um pesadelo em lugar de um sonho. Daí a constante comparação deste romance com o fim do sonho americano. Houve coisas que nunca chegaram a acontecer, promessas por cumprir. Há uma frase marcante que resume bem esta minha ideia: «… todos lhe recordavam tempos em que gostava de pensar, tempos que se tinham tornado melhores do que deviam.» A não concretização do futuro esperado fez enaltecer mais do que seria suposto o valor do passado que seria para esquecer.
É, como já devem ter percebido, um romance extremamente bem estruturado e desenvolvido, onde a qualidade da escrita está ao nível da grande história que aqui é contada.
Autor: Philipp Meyer
Título original: American Rust
Editora: Bertrand
Tradução: Ester Cortegano
Ano de Edição: 2012
Sinopse: «Passado num cenário de grande beleza mas economicamente destruído, Ferrugem Americana é um livro sobre o fim do sonho americano, mas é também uma história de amizade, lealdade e amor. Isaac fica a tomar conta do pai depois do suicídio da mãe e da fuga da irmã para a universidade de Yale. Quando finalmente decide partir, acompanhado pelo seu melhor amigo, o temperamental Billy Poe, antiga estrela de futebol do liceu, são apanhados num terrível ato de violência que muda para sempre as suas vidas. Com ecos dos romances de Steinbeck, Ferrugem Americana leva-nos ao coração da América contemporânea num momento de profunda inquietação e incerteza quanto ao futuro. Um livro negro, lúcido e comovente, onde se trava uma batalha entre o desespero e o desejo de transcendência, entre a destruição e a capacidade redentora do amor e da amizade.»