Os Filhos do Jacarandá (Divina Comédia), romance para o qual a autora, Sahar Delijani, se inspirou na sua própria vida, assim como nas de familiares e amigos, mostra-nos uma outra faceta do Irão, mais propriamente uma sociedade vista a partir de dentro, na ótica de quem lá vive ou viveu.
O início da ação situa-se em 1983, ou seja no período pós-revolução, nos anos turbulentos que se seguiram ao afastamento do Xá Reza Palevi. Como já referi, a perspetiva deste romance em episódios, mas interligados, é a das pessoas, dos cidadãos, e não a dos governantes ou militares ou até de estrangeiros, ou seja, foge à regra do habitual. Por vezes, para uma análise mais emocional e menos fria das situações, é bom atentar no testemunho direto dos protagonistas, mesmo que disfarçado em forma de romance.
É um livro iminentemente feminino, e não quero com isto dizer que se destina apenas para o público feminino, pretendo apenas indicar que tem uma sensibilidade diferente na abordagem de determinadas questões. São perspetivas que não nos passam pela cabeça ao ver ou ler notícias ou até determinados tipos de filmes ou documentários, quase sempre concebidos numa perspetiva bélica, política ou do que se passa entre os corredores do poder.
Aqui o que temos são pessoas e as suas vidas, ou histórias., como viveram e sofreram com a revolução e nos anos seguintes, quer tenham ficado no Irão ou emigrado.
É um livro em episódios, quase de contos, pois a autora vai relatando fases da história da sua família com recurso em cada uma delas a diferentes grupos de amigos ou familiares. Há ligação entre todos, naturalmente, mas talvez a maior ligação seja o sofrimento por que todos passaram, nas suas diversas vertentes, com o medo sempre presente, assim como a insegurança quanto ao futuro.
O livro ganha riqueza na descrição das diferentes formas como as personagens encaram o infortúnio, uns com mais desânimo, ou resignação, outros com mais luta e insurreição. Todos, inequivocamente, se sentem amordaçados. E Zahar Delijani libertou-se das mordaças e amarras para, através da sua escrita sentida, lançar o seu grito de alerta e revolta, sem extremismos ou lamechices, apenas com vida e cor, sejam cores garridas ou pardacentas, porque de tudo há, afinal, mesmo no meio de situações extremas, pois há sempre quem tente levar uma vida normal. E é curioso verificar como se tenta fazer isso no meio de tantas limitações, com essa busca por um quotidiano normal a revelar-se por vezes como a única âncora para manter a sanidade e a esperança.
Autora: Sahar Delijani
Título Original: Children of the Jacaranda Tree
Editora: Divina Comédia
Tradução: Isabel Veríssimo
Ano de Edição: 2013
Páginas: 300
Sinopse: «Neda nasceu na prisão de Evin, em Teerão. A mãe cuidou dela durante alguns meses, até ao dia em que apareceu um guarda e a levou.
Aos três anos, Omid estava sentado à mesa da cozinha, a comer iogurte, e assistiu à detenção dos pais, activistas políticos.
Mais de vinte anos após a sangrenta purga levada a cabo nas prisões de Teerão, Sheida descobre que o pai foi uma das vítimas da chacina.
Estes são Os Filhos do Jacarandá.
Situado no período pós-revolucionário do Irão (1983 – 2011) e baseado na dolorosa experiência da autora, da sua família e amigos, Os Filhos do Jacarandá é um magnífico romance que acompanha três gerações de homens e mulheres movidos pelo amor, inspirados pela poesia e motivados por sonhos de justiça e liberdade.
Um olhar surpreendente e evocativo sobre o lado intimidante da revolução e uma extraordinária homenagem a quem soube responder ao apelo da História.»