
Bruxelas é por norma associada a instituições europeias, burocracia, política, etc., mas a capital da Bélgica é naturalmente muito mais do que isso. Não tem os grandes e icónicos monumentos como a Torre Eiffel ou o Big Ben, mas nem por isso deixa de ser uma cidade acolhedora e que sabe receber. Nomeadamente, é a capital europeia da banda desenhada. E isso não é pouco. Quem visita Bruxelas «cruza-se» frequentemente com Tintin, Spirou, Gaston Lagaffe, Lucky Luke, Schtroumpfs, entre muitos outros, e digam lá se não são boas companhias?
A BD está, portanto, por toda a parte, seja em lojas especializadas, seja em murais, e são muitos, espalhados pela cidade. Em tal tipo de urbe não é de estranhar que haja um museu de banda desenhada, o Centre Belge de la Bande Dessinée, onde uma completa coleção permanente permite ao amante da BD, e não só, perder-se naquele mundo desenhado, e na sua história. Sim, o museu não serve apenas para mostrar «bonecos» (embora também cumpra essa missão com grande estilo), já que se revela de igual modo bastante detalhado no relato da interessante e longa história da banda desenhada mundial, que como se sabe tem um dos seus principais núcleos precisamente em Bruxelas.
A reabertura pós-Covid está marcada para 3 de junho e para quem não vive na Bélgica resta esperar que sejam retomados os voos para a capital belga, assim como reabertas em geral as fronteiras.
Desde 1989 no centro de Bruxelas

O museu está instalado desde 1989 na rue des Sables/Zandstraat (bem perto do centro, a uns passos da Grand Place) num edifício Art-Noveau de 1906 que começou por servir como grande armazém dedicado às vendas de têxteis. Depois dos seus tempos áureos, veio um período de decadência e nos anos 1970 começou a ser debatida a sua recuperação. Até que a 6 de outubro de 1989, depois de remodelado, abre portas como Centre Belge de la Bande Dessinée.
Já por lá passaram muitos milhares de visitantes e é inevitável que desde a entrada se tenham sentido deleitados com o belo átrio onde o visitante é recebido por Lucky Luke a cavalo e por Boule e Bill junto ao seu belo 2 CV vermelho, além de um Schtroumpf e do foguetão que Tintin e amigos usaram para ir à Lua. Alerte-se, no entanto, que estas peças ocasionalmente trocam de lugar no museu, pelo que podem não se encontrar exatamente como aqui descrito. Outras tão ou mais interessantes estarão a receber os visitantes, isso é garantido.

Percorrido este átrio – é melhor à entrada ignorar a espetacular loja à esquerda que por si só merece uma demorada visita (guarde-a para o fim) –, sobe-se a escadaria imponente até ao balcão de atendimento, onde se compra os bilhetes de acesso. E aí começa a visita propriamente dita, preenchida por cinco exposições permanentes. A Invenção da Banda Desenhada (desde os primórdios aos dias de hoje, com informação detalhada), A Arte da BD (com a presença rotativa de obras de dezenas de autores, cobrindo imensos géneros europeus e todas as fases do processo criativo), Horta e os Armazéns Waucquez (dedicado ao arquiteto Victor Horta, que desenhou o edifício), o Espaço Hergé (onde

tomamos contacto com a obra do criador de Tintin e muito mais), o Espaço Peyo (onde os Schtroumpfs são reis e senhores e onde é possível posar para fotos no ambiente deles) e o Auditório Pieter de Poortere. Este último autor, não tão conhecido em Portugal, criou Dickie, que surge em pequenas histórias super divertidas, capazes de prender o visitante no auditório, sempre ávido por mais uma história, seja nas pranchas e quadros expostos nas paredes, seja nos pequenos filmes que passam constantemente no ecrã do auditório dedicado a este autor belga contemporâneo.
Constantes exposições temporárias


Presentemente, está ainda patente uma exposição temporária relativa a Boule et Bill, uma divertida dupla criada pelo desenhador local Jean Roba há mais de 60 anos, nas páginas da revista Spirou. Destinada essencialmente aos mais pequenos, esta BD sem dificuldade conquistou públicos de todas as idades. A exposição atualmente patente (até 31 de agosto de 2020) permite, além da visualização de várias pranchas, interagir e brincar com alguns adereços relativos aos heróis.
Outra exposição temporária que se pode visitar de momento (e até 8 de novembro de 2020) no centro/museu é relativa ao espanhol Juanjo Garnido, conhecido principalmente por desenhar Blacksad, série que tem argumento de Juan Diaz Canales.
À saída, sim, não deve perder a loja, onde há de tudo o que possa ter que ver com banda desenhada.
Banda desenhada espalhada pelas ruas
Se não lhe bastou toda esta banda desenhada concentrada, recomenda-se um passeio pelas ruas de Bruxelas em busca dos murais dedicados a vários heróis e personagens da banda desenhada franco-belga. Ocupam principalmente fachadas «despidas» de prédios e são dedicados a heróis como Tintin, Blake & Mortimer, Lucky Luke, Ric Hochet, etc. O melhor mesmo é consultar este site do município de Bruxelas e organizar o seu próprio percurso.

Até nos aviões
Aliás, para o amante de banda desenhada que chegue a Bruxelas de avião, o primeiro brinde surge logo no aeroporto, onde há uma réplica de dimensão considerável do foguetão de Tintin e companheiros visto em Rumo à Lua e Explorando a Lua. Aliás a sorte grande poderá sair a quem apostar em viajar pela Brussels Airlines, que em épocas normais tem voos regulares para o Porto e Lisboa. É que esta companhia belga conta na sua frota com um avião dedicado a Tintin e outro aos Schtroumpfs e nunca se sabe se não será um desses a transportar-nos. Eu apostei na Brussels Airlines, graças também aos seus preços convidativos, e não tive a sorte de me sair um desses aviões, mas nem me posso queixar muito porque calhou-me um dos outros que eles têm decorados, neste caso dedicado a Bruegel. Sim, porque Bruxelas, ou a Bélgica, não são só instituições europeias ou banda desenhada. Está lá o Atomium, a Mini Europa, e vários museus interessantes, como o de instrumentos musicais.
Contudo, para já não se perca, e primeiro prepare a sua visita ao Centre Belge de la Bande Dessinée passando pelo site oficial, que pode consultar a aqui. Tem todas as informações sobre acessos, bilhetes, exposições, etc.
(Texto e fotos de Rui Azeredo)