O comboio da rapariga está previsto para 8 de junho, com paragem em todas as estações e apeadeiros. Para quem, de entre os amantes de thrillers ou simplesmente mais atentos a estas coisas de livros e bestsellers, não entendeu esta frase de abertura, é porque tem andado distraído. A Rapariga do Comboio (The Girl on The Train), da inglesa e ex-jornalista Paula Hawkins, tem dominado tops por todo o mundo e por via da Topseller tenta a partir de 8 de junho a sua sorte em Portugal.
Aqui no Porta-Livros já li o exemplar de avanço da obra e percebi perfeitamente a razão de tanto sucesso e «falatório». O livro cativa, prende, leva a que o leitor se envolva, até porque é fácil a identificação com os protagonistas, são gente como nós, que anda em transportes públicos e se mete e imagina e inveja a vida dos outros, que parece sempre melhor do que a nossa. Mas o que se vê diante dos olhos não é bem o que está por debaixo da «capa», e essa é a primeira grande lição a retirar do enredo deste romance.
Mas, antes de mais, uma ressalva. A Rapariga no Comboio tem sido muito comparado a Em Parte Incerta de Gillian Flynn, mas apesar de terem algumas coisas em comum (autora do sexo feminino, protagonistas mulheres desequilibradas e desconcertantes, protagonistas masculinos bananas ou se calhar nem por isso), os paralelismos são injustos para ambos os livros. O que Em Parte Incerta tem de crítica social e retrato de época (contemporânea), A Rapariga no Comboio contrapõe com uma história mais «pessoal», em que as personagens são o que são por si mesmas e não tanto pelo meio que as envolve.
Dediquemo-nos então ao livro de Paula Hawkins, passado entre Londres e arredores, cujo ritmo parece mesmo o de um comboio em movimento, sem pausas e a um ritmo implacável. Não há pontos mortos nesta história em que a principal protagonista, Rachel, afundada numa existência de tédio e álcool, se dedica a viver as vidas que imagina para os outros, principalmente os que observa diariamente através da janela do seu comboio. Mas os contos de fadas que ela inventa afinal não são assim tão cor de rosa como imagina, e vai perceber isso mesmo quando um dia, na casa que era o alvo preferido da sua fantasia, observa algo que não encaixa nos seus devaneios de deslumbramento. O pior, é que isso é apenas a ponta do icebergue e vem a constatar que a «fachada» que montou para aquela casa que lhe passa duas vezes ao dia diante dos olhos, não vai além disso mesmo, de uma fachada. Ela própria a viver um período de desgraça após um casamento falhado, envolve-se irrefletidamente em algo maior do que ela, que não pode controlar, com implicações na sua vida, na vida do ex-marido, da nova mulher deste e na do casal que observa e que colocara num pedestal.
Naturalmente, tratando-se A Rapariga no Comboio de um thriller, não faltam as voltas e reviravoltas, especialmente no final, e uma boa dose de surpresas agradáveis – do ponto de vista do leitor, não das personagens. Para estreante, Paula Hawkins revela um excelente, e surpreendente, domínio da arte de prender o leitor, com um romance bem montado e estruturado, com um ritmo inflexível e pouco dado a paragens ou descansos. Não só nos sentimos presos pelo crime que a dada altura ocorre, como queremos saber mais sobre aquelas pessoas que ocupam as páginas à nossa frente, três mulheres e dois homens, que tanto nos cativam como nos repugnam. Afinal, são seres humanos simples, daí a identificação com a obra. Não há aqui, apesar do já citado crime, superdetetives ou superpolícias, com poderes dedutivos acima da média. Há pessoas normais envolvidas numa história que corre mal e que por isso levanta o véu que ocultava uma série de podres. Ninguém escapa, o que dá um realismo que por vezes escasseia neste tipo de obras.
A proximidade que criamos com as personagens é ainda mais forte devido ao facto de o livro ser narrado por três delas: Rachel (a da imaginação fantasiosa), Megan (o alvo da sua imaginação) e Anna (a que lhe ficou com o marido e que é vizinha de Anna).
Por tudo isto, e muito mais, recomendo vivamente A Rapariga no Comboio aos amantes de thrillers, de histórias com pessoas «reais» ou, pura e simplesmente, de um bom livro.
Autora: Paula Hawkins
Título original: The Girl on The Train
Editora: Topseller
Tradução: José João Leiria
Ano de Edição: 2015
Sinopse: «Todos os dias, Rachel apanha o comboio…
No caminho para o trabalho, ela observa sempre as mesmas casas durante a sua viagem.
Numa das casas ela observa sempre o mesmo casal, ao qual ela atribui nomes vidas imaginárias. Aos olhos de Rachel, o casal tem uma vida perfeita, quase igual à que ela perdeu recentemente.
Até que um dia…
Rachel assiste a algo errado com o casal… É uma imagem rápida, mas suficiente para a deixar perturbada.
Não querendo guardar segredo do que viu, Rachel fala com a polícia. A partir daqui, ela torna-se parte integrante de uma sucessão vertiginosa de acontecimentos, afetando as vidas de todos os envolvidos.»