«Escrever» (e ler) com Stephen King

Escrever (2)Escrever – Memórias de Um Ofício, de Stephen King, é apresentado, e bem, como uma mistura de autobiografia com manual de escrita para aspirantes a escritores. Mas a verdade é que tal caracterização pode ser limitativa, pois considero que esta obra, um original de 2000 em boa hora recuperado pela Bertrand, serve também na perfeição como um guia para leitores. Depois de ler Escrever, acredito que qualquer um esteja muito melhor preparado para ler qualquer obra de ficção, e não apenas as assinadas pelo mestre do suspense, terror e muitas outras áreas.
Se há alguém capaz de «ensinar» alguém a escrever, uma dessas pessoas é Stephen King, não só pela carreira de sucesso que tem tido ao longo de décadas (tudo começou, em termos de obras que chegaram ao grande público, em 1974 com Carrie, e prosseguiu por aí fora com bestsellers como A Coisa, The Shining, Misery, A Cúpula, Sr. Mercedes, O Intruso, Cujo, A Torre Negra, etc., entre imensos outros, fossem contos, novelas ou romances), mas principalmente pela qualidade da sua escrita, que é de certa forma simples, mas de todas as formas eficaz, correta e certeira. E toda essa qualidade foi vertida em Escrever, uma obra que beneficia imenso do grande talento do escritor norte-americano para contar as histórias que o seu cérebro fervilhante debita a um ritmo notável.
Stephen King começa por fazer em Escrever um enquadramento biográfico e há muitas histórias suculentas relativas à sua vida, desde os tempos de criança, que permitem mais à frente compreender melhor o corpo da sua extensa obra.
Fala-nos de outros autores, dando exemplos de boa e má escrita, de como escrever diálogos, de como evitar advérbios, etc. Sim, coisas muito práticas. Conta-nos como é o seu relacionamento com as personagens, algumas pelo menos, já que ao fim de dezenas de livros estas são naturalmente na casa das centenas. E também explica como lida com os enredos, que muitas vezes lhe dão a volta e não saem como planeado ou pelo menos idealizado. E perceba também em Escrever como aproveitar as ideias que se formam na sua mente, seja em sonhos (sim, isso já aconteceu a Stephen King), seja por inspiração de situações do seu quotidiano, ou qualquer outro caso.
Para quem quer aprender algo sobre escrita, não ceda à pressa e à tentação de avançar até às páginas dedicadas especificamente a esta temática, porque é importante conhecer a vida do autor para compreender a sua escrita. Aguente, por que vale a pena, e dado que o livro nem sequer é grande (cerca de 280 páginas), ao contrário de muitas da sua obras, daí a nada vai chegar à parte onde pode aprender com o «mestre» como dar arranque e seguimento a uma eventual carreira de escritor. São muitos os conselhos e dicas para quem pretender dedicar-se à escrita, sendo que há um que se impõe e é comum à partida a todos os que pretendem ensinar algo sobre o melhor modo de escrever: ler, ler muito. Por isso, nada de ceder à tentação de se alhear das imensas listas de livros que Stephen King apresenta no fim como sugestões de leitura. No meio de tanta sugestão, por certo que vai encontrar algo que lhe agrade.
No entanto, para já, trate antes de ler Escrever, que nesta edição da Bertrand conta com uma boa tradução de E. Santos.
Um conselho final: Mesmo que a sua relação com a literatura seja feita apenas pela via da leitura, não ignore Escrever, pois é um livro que se lê com gosto, recheado de boas histórias bem contadas, como é norma em Stephen King.

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