Têm saído, ou estão para sair, alguns livros de autores estrangeiros que me parecem interessantes e que acho que merecem algum destaque.
Não poderia deixar de realçar o regresso de Astérix, que a 22 de outubro tem uma nova aventura aí pelas livrarias, chamada O Papiro de César. O herói da BD criado por Uderzo e Goscinny, e editado entre nós pela ASA, ganha de novo vida pela mão de Jean-Yves Ferri (argumentista) e Didier Conrad (desenhador), que já foram os responsáveis por Astérix entre os Pictos, que de certa forma reanimou esta série clássica da 9.ª Arte. O criador Albert Uderzo e Anne Goscinny (filha de René Goscinny) continuam a supervisionar a obra para que respeite o espírito de Astérix e companhia.
Segundo a ASA, O Papiro de César trata-se de «uma aventura na linha da mais pura tradição dos álbuns de Astérix», que tem por pano de fundo a Gália, que será visitada por Júlio César. Já se sabe também que haverá um novo vilão, Bónus Vendetudus, um conselheiro de César que será «uma sábia mistura de personagens incontornáveis do nosso mundo atual». Fiquei ainda a saber aqui no Público que há uma personagem inspirada em Julian Assange, fundador da Wikileaks.
Mas há mais novidades em termos de BD, nomeadamente com o surgimento de uma nova chancela, A Arte de Autor, que arranca, a 14 de outubro, com uma obra do consagrado Milo Manara, Caravaggio – 1ª parte – O pincel e a espada. Aqui fica a sinopse: «Outono de 1592. O jovem Michelangelo Merisi da Caravaggio, que ficará conhecido como Caravaggio, chega a Roma com a intenção de se converter no maior pintor de Itália. Inspirando-se nas sombras e nas cores de uma cidade que se debate entre a grandeza e a decadência – bem como nas personagens que nela habitam – tornar-se-á rapidamente admirado pelo seu talento ao mesmo tempo que alguns lhe criticam a liberdade artística, nomeadamente no que refere aos modelos a que recorre (frequentemente mendigos e prostitutas) para pintar temas religiosos.»
Dose dupla da Elsinore
A Elsinore, a nova chancela da 20|20 Editora, pôs por estes dias à venda O Que Vemos Quando Lemos, do conceituado designer Peter Mendelsund, que pretende responder à pergunta «como visualizamos imagens a partir da leitura de obras literárias?» Fica aqui um excerto da sinopse para «visualizarmos» melhor o que nos propõe esta obra: «O conjunto de imagens fragmentadas numa página — uma orelha elegante ali, uma madeixa rebelde acolá, um chapéu posicionado de determinada maneira — e outras pistas e significantes ajudam-nos a imaginar uma personagem. Mas, na verdade, a sensação de conhecermos intimamente uma personagem tem pouco que ver com a nossa capacidade de imaginarmos as figuras literárias que amamos (ou odiamos).»
Ainda na Elsinore há outra obra, esta de ficção, que me desperta (e muito) a curiosidade; de tal maneira que o livro já está ali pousado para eu lhe pegar não tarda nada. Trata-se de Arranha-Céus, de J.G. Ballard – Lembram-se daquele rapazinho maluco por aviões que protagoniza o filme O Império do Sol, de Steven Spielberg? Pois bem, esse rapazinho é precisamente este Ballard escritor. Fiquem aqui com a sinopse e digam lá se não parece prometedor: «Num imponente edifício de quarenta andares, o último grito da arquitetura contemporânea, vive Robert Laing, um bem-sucedido professor de medicina, e duas mil pessoas. Para desfrutarem desta vida luxuosa, não precisam sequer de sair do prédio: ginásio, piscina, supermercado, tudo se encontra à distância de um elevador. Mas alguma coisa estranha borbulha por baixo desta superfície de rotina. Primeiro vandalizam-se os automóveis do parque de estacionamento, depois assaltam-se os habitantes. Um incidente conduz a outro e, acossados, os habitantes separam-se por pisos. Quando aparecem as primeiras vítimas, a festa mal começou. O realizador de documentários Richard Wilder resolve avançar, de câmara em punho, numa viagem por esta inexplicável orgia de destruição, testemunhando o colapso do que nos torna humanos.
Entre a alucinação e a anarquia, a visão futurista de J. G. Ballard oferece-nos o retrato demencial, lógico de como a vida moderna nos pode empurrar, não para um estádio mais avançado na evolução, mas para as mais primitivas formas de sociedade.»
Salman Rushdie e as lendas do Oriente
Outra nota de destaque na ficção teria de ser dedicada a Salman Rushdie, cujo romance Dois Anos, Oito Meses e Vinte e Oito Noites acaba de ser lançado pela Dom Quixote. Segundo a editora é uma obra inspirado nas tradicionais «lendas maravilhosas» do Oriente, «que combina História, mitologia e uma narrativa de amor intemporal». Indica ainda a sinopse: «No futuro próximo, depois de Nova Iorque ser assolada por uma tempestade, principiam os estranhos acontecimentos: um jardineiro descobre que os seus pés já não tocam no chão; um autor de banda desenhada acorda no seu quarto e vê uma misteriosa entidade que se assemelha à personagem dos seus livros; uma bebé identifica a corrupção apenas com a sua presença, marcando os culpados com manchas e pústulas; uma sedutora mulher é recrutada para combater forças que ultrapassam a imaginação…»
Do Chile ao Usbequistão
A venturosa história do usbeque mudo é o novo romance do chileno Luis Sepúlveda, que chega às livrarias a 22 de outubro numa edição Porto Editora. Aqui, neste conjunto de histórias, são narradas muitas das peripécias clandestinas dos jovens militantes chilenos da Juventude Comunista e da Federação Juvenil Socialista. Regressamos ao Chile dos anos sessenta, quando os jovens do país começaram a lutar para derrubar o regime. O texto que dá nome ao livro surge na sequência da promessa feita por Sepúlveda de contar a aventura de um amigo peruano que se fez passar por mudo para sair do Usbequistão e regressar a Moscovo.
Acha que já conhece Steve Jobs? Olhe que não…
Regressemos à não-ficção, agora para referir a edição de uma biografia de Steve Jobs pela Saída de Emergência, intitulada A Transformação de Steve Jobs – De Jovem Rebelde a Líder Visionário. A obra vem assinada pelos jornalistas Brent Schlender e Rick Tetzeli, e por este livro ponho eu as mãos no fogo. Já o li, pois fui eu o tradutor, e cativou-me imenso, pois sendo exaustivo nunca cai no fútil ou desnecessário e tem uma estrutura bem montada que prende o leitor, com histórias já conhecidas e outras por conhecer, algumas mais parecendo ficção. Mas, na verdade, quem é que quer ler biografias de pessoas banais? Não se trata de um recital de elogios, pois os muitos defeitos de Jobs vêm aqui bem aprofundados. E estejam atentos à capa holográfica, vale bem a pena brincar com ela.
Física para todos
Ainda pela não-ficção, retenham este título: Sete Breves Lições de Física, de Carlo Rovelli, uma edição Objectiva. Uma matéria complexa como a Física é aqui abordada de uma forma clara e simples, mas sem perder precisão e exatidão. Uma espécie de Física para Totós, escrita com qualidade e gosto por um físico que nos quis facilitar a vida explicando-nos de forma «fácil» coisas como a Teoria da Relatividade de Einstein, a mecânica quântica, buracos negros, etc. Já comecei a ler e, até ver, Rovelli está a cumprir muito bem a sua missão.