«O Livro do Anjo» – Alfredo Colitto

ca-O Livro do AnjoHá livros que nos surpreendem. No meu caso, O Livro do Anjo, de Alfredo Colitto, editado pelo Clube do Autor, foi um deles.
Peguei-lhe convicto de que iria servir para me entreter em tempo de férias, uma leitura descontraída, um «policial» no século XIV, mas pouco mais do que isso. E se não tivesse passado disso já teria sido bom, afinal era o que eu procurava. Mas, era algo mais, pois não só se revelou um bom retrato de época, Veneza em 1313, como apresenta uma boa história, bem pensada e apresentada, reforçada com personagens plausíveis e cativantes. Ou seja, Alfredo Colitto, autor que eu desconhecia, mas a que vou estar agora mais atento, sabe prender a atenção do leitor.
Escolher Veneza como cenário é uma opção segura, mas é preciso saber agarrá-la, e Colitto assim o fez, descrevendo a cidade com uma vida e um pulsar magnéticos, com cor e movimento, de um modo quase cinematográfico, muito visual.
Veneza não é uma cidade como as outras e naturalmente já não o era no século XIV, e portanto não é de estranhar que possa praticamente ser considerada uma verdadeira personagem. Tudo se passa da maneira que se passa porque se está em Veneza, e o autor aproveita-se bem disso. Depois, lançou lá uma série de personagens cativantes, começando pelo protagonista, Mondino de Liuzzi, um médico com «jeito para detetive» que é levado a investigar o homicídio de um judeu, que entretanto morre na prisão. Tudo está relacionado com o Sefer-ha-Razim, o Livro dos Mistérios que teria sido ditado pelo anjo Raziel a Noé. A vertente religiosa, sempre presente neste tipo de obras e quase inevitável, é introduzida de um modo natural, cruzando-se harmoniosamente com uma outra história paralela, esta dizendo respeito aos templários. Pelo meio, ou melhor, como motor do enredo, está, como também é natural, uma feroz ânsia de poder, motivada por razões que caberá ao leitor descobrir.
Tal amálgama de temas foi bem gerida por Colitto que, apimentando a obra com crimes horrendos e sangrentos, doseia e gere com sabedoria o ritmo da história, prendendo o leitor com pormenores lançados aqui e acolá de modo a que o interesse na leitura seja constante, equilibrado e duradouro.
A mim prendeu-me mais do que eu esperaria. Haja surpresas assim.

Autor: Alfredo Colitto
Título Original: Il Libro dell’Angelo
Editora: Clube do Autor
Tradução: Maria Irene Bigotte de Carvalho
Ano de Edição: 2013
Páginas: 296
Sinopse: «1313. A cidade de Veneza fervilha com os preparativos para a festa da Ascensão até que a maré alta traz à porta da Basílica de São Marcos os cadáveres de três crianças cristãs que haviam sido crucificadas. Um crime tão hediondo tem de ser expiado sem demoras. Eleazar de Worms, judeu, é acusado do homicídio e acaba por morrer na prisão. Na cela onde foi encarcerado, Eleazar deixa escrita uma misteriosa frase em latim. Porque a terá escrito com o seu próprio sangue? Qual o seu significado?
Afinal, a macabra descoberta pode ter ligação com o Sefer-ha-Razim, o Livro dos Mistérios que, segundo a lenda, foi ditado pelo anjo Raziel a Noé que, por sua vez, o terá transcrito numa pequena «tábua» de safira. Mondino de Liuzzi, médico anatomista, parte para Veneza na tentativa de ilibar o judeu. Quando este morre, Liuzzi decide continuar a investigar. O médico rapidamente percebe que terá de lutar contra os mais poderosos da cidade ao mesmo tempo que se encontra frente a frente com a mulher que ama e com aquela que amou no passado — e talvez ainda ame. Sendo ele próprio perseguido, conta com a ajuda do seu amigo Gerardo para chegar à verdade. O jovem, outrora membro da Ordem dos Templários, tem também uma missão: pôr a salvo o precioso mapa de Lamberto de Saint-Omer, que indica o caminho para as Terras Austrais, para lá do oceano. Mondino, desafiando o poder de Veneza e arriscando a própria vida, terá de descobrir o enigma de uma antiga linhagem de guardiães que remonta aos tempos do dilúvio, numa história de intriga, mistérios e morte.»

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