“Milagrário Pessoal” – José Eduardo Agualusa

Já li, relativamente a Milagrário Pessoal (Publicações Dom Quixote), que será uma obra menor de José Eduardo Agualusa. Posso (e devo) respeitar, mas não concordo, nem sequer entendo. Tem, logo à partida, uma grande vantagem: está muito bem escrito. O escritor angolano domina como quer a língua portuguesa e aplica o seu conhecimento numa escrita fluida, colorida e viva que bastaria para cativar um leitor mesmo que escrevesse sobre nada. Bastaria para satisfazer só pelo prazer da leitura… até podia estar a falar de cimento ou alcatrão.
O enredo não terá nada de muito original? Posso concordar, pois tudo começa e assenta numa história de amor, impossível como manda a tradição. Mas essa história serve de pretexto para homenagear a língua portuguesa, através de uma busca, por parte das suas principais personagens, dos neologismos do português. E bem encaixados no meio da história (ou das histórias, mas a isso já lá vamos) surgem os neologismos, como uma aula na qual nem se repara, mas onde tudo se aprende. De Portugal a Angola, passando pelo Brasil e outros, corremos os olhos por jogos de palavras (novas e velhas, dependendo por vezes da geografia) bem lançados por Agualusa.
E depois temos as tais histórias (referidas mais atrás). Milagrário Pessoal é quase uma compilação de pequenas histórias que se vertem ordeiramente e com sentido nas páginas do romance, abordando temáticas tão díspares como as guerras em Angola (e as suas consequências) ou Zé do Telhado e a sua troca de correspondência com Camilo Castelo Branco. E, entre personagens reais e fictícias, todos têm algo de interessante a acrescentar ao enredo.
Parece que estou a escrever sobre um livro didáctico, mas não. É só uma história onde por acaso se pode aprender umas coisas e da forma mais interessante: sem se dar por isso.
Já deu para perceber, não é? Gostei muito de Milagrário Pessoal.

Leia aqui entrevista de José Agualusa ao Porta-Livros sobre Milagrário Pessoal.

8 pensamentos sobre ““Milagrário Pessoal” – José Eduardo Agualusa

  1. armando sousa

    Gostei muito do Vendedor de Passados e estou de acordo que este Milagrário, embora não tivesse gostado demasiado, não o achei muito “chato”.

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