“O Naufrágio da Luz” – Hernán Neira

naufragio8Hernán Neira é mais um, entre vários escritores chilenos, com qualidades para se afirmar no panorama literário internacional.

“O Naufrágio da Luz”, editado em Portugal pela Asa, é uma belíssima obra, escrita de uma forma directa, dura e crua, acompanhando assim o estilo do enredo. Não há aqui espaço para floreados, já que logo à terceira página o leitor está envolvido no enredo e à trigésima já tanta coisa se passou que poderia acabar ali mesmo o romance.

Apesar de se passar essencialmente numa ilha e num farol, o ambiente é absolutamente claustrofóbico e assustador. Na ilha, da qual nunca se sabe nem nome nem localização geográfica, vive um povo estranho, muito fechado e hostil, completamente adverso ao amor e ao calor humano – quase se pode falar de uma sub-espécie. Para lá foi trabalhar um jovem faroleiro, que acaba por manter uma relação meramente formal com a comunidade local, por cumprir as regras impostas pelos insulares. Um dia conhece Mareika, uma jovem que estranhamente pouco diz aos locais e parece ter um ar de abandono e desolação. Aos poucos vão ficando mais íntimos e tornam-se num casal, com os seus próprios sonhos. O principal: sair da ilha. Mas aí começam verdadeiramente os problemas, não só porque aquele pedaço de terra é praticamente inacessível por mar (excepto alguns dias por ano), mas também porque os ilhéus tudo fazem para impedir a partida.

“O Naufrágio da Luz” acaba por ser uma espécie de tratado sobre a condição humana, sobre o que o ambiente faz às pessoas, transformando-as em seres estranhos e absurdos e, principalmente, maus e demoníacos, sem sentimentos. Sem nunca se saber onde fica a ilha (também não interessa), parece-nos estarmos a entrar numa viagem até ao fim do mundo, até ao limite, um teste ao humanismo de cada um, onde várias vezes ganha o lado animal e selvagem dos indivíduos.

Este livro ganhou o Prémio “Las Dos Orillas” no Salão do Livro Ibero-Americano de Gijón e foi publicado em simultâneo em Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha e Grécia.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.